Manias, Pânicos e Crises - Resenha crítica - Charles P. Kindleberger
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Manias, Pânicos e Crises - resenha crítica

Manias, Pânicos e Crises Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Economia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Manias, Panics and Crashes: A history of Financial Crises

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 1137525754, 978-1137525758

Editora: Saraiva Uni

Resenha crítica

As crises financeiras pelo mundo

O mundo enfrentou inúmeras crises financeiras no século passado. Diversos países como a Malásia, a Tailândia, o Japão e os Estados Unidos tiveram suas maiores dificuldades ligadas aos preços imobiliários. Esses países experimentaram grandes bolhas financeiras.

O problema é que essas bolhas sempre implodem. Por definição, uma bolha envolve um padrão não sustentável de mudança de preços ou de fluxos financeiros. A implosão do preço dos ativos na bolha do Japão levou ao fracasso de um grande número de bancos e de outras firmas no país, causando mais de uma década de crescimento econômico lento. A implosão do preço dos ativos na bolha da Tailândia levou a um declínio acelerado no preço das ações na região.

O custo dessas crises foi muito alto. O resultado foi uma série de perdas para os bancos em todos os países envolvidos, desacelerando as taxas de crescimento econômico.

Esses problemas aconteceram em três ondas diferentes: a primeira no início dos anos 80, a segunda no início dos anos 90 e a terceira na segunda metade da mesma década. Os anos 70 viam uma inflação acelerada nos Estados Unidos. A visão prevalecente no final dos anos 70 era de que as taxas inflacionárias nos EUA e no resto do mundo iriam acelerar.

O endividamento de países como México, Argentina e Brasil aumentou de $125 bilhões em 1972 para $800 bilhões em 1982. Nesse mesmo ano, as moedas desses países se depreciaram e a maioria dos bancos faliu por causa das grandes perdas com empréstimos.

Já no início dos anos 90 os preços imobiliários no Japão implodiram. E em poucos anos os grandes bancos japoneses declararam falência e só continuaram funcionando porque o governo estava protegendo os investidores das perdas financeiras. Essa é uma das histórias de mania e ruína – mas uma ruína sem pânico, porque as pessoas acreditavam que o governo podia lidar com as perdas.

Os exemplos desse tipo de crise no mundo são inúmeros. Apesar ser impossível comparar os diferentes períodos de tempo com perfeição, pode-se concluir que o fracasso financeiro dos últimos trinta anos foi muito mais extenso e universal do que em qualquer época.

As manias e o crédito fácil

As manias são normalmente dramáticas, mas pouco frequentes: em duzentos anos foram apenas duas ocorrências no mercado de ações americano. As manias são muitas vezes associadas a fase de expansão do ciclo de negócios, porque a euforia pode muitas vezes levar a um aumento nos gastos.

Durante a mania, o aumento dos preços dos imóveis e de algumas commodities contribui para aumentar o consumo e os gastos com investimentos. Esse aumento leva a uma aceleração nas taxas de crescimento econômico, pelo menos por um tempo.

As manias são associadas com a euforia econômica. Nesse cenário as empresas crescem e os gastos com investimento também, porque o crédito é excessivo. Então algum evento como uma mudança governamental leva a uma pausa nesse crescimento. Assim o cenário muda completamente, com queda nos preços dos ativos e grandes perdas para os investidores. Tudo isso dá início ao pânico e o crash.

O surgimento das bolhas e de manias levantam um questionamento político pertinente: os governos deveriam intervir? Eles deveriam moderar o aumento nos preços dos ativos? Todos os países grandes já estabeleceram um banco central como último recurso para lidar com a escassez de liquidez gerada por uma crise.

Quando os preços dos ativos caem muito, a intervenção do governo pode ser útil na busca por estabilidade. O problema disso é que, se os investidores soubessem com antecedência do apoio do governo nos momentos de crise, os mercados poderiam quebrar com ainda mais frequência. Isso aconteceria porque os investidores agiriam com menos cautela nas compras dos ativos ou títulos.

A premissa da racionalidade humana e a teoria econômica

Em alguns aspectos, a mania pode sugerir uma perda de racionalidade. Mas a teoria econômica assume que o ser humano é racional, por isso as manias não são consistentes com a teoria econômica.

Quando assumimos que o investidor é racional, podemos supor que isso acontece no longo prazo, o que ajuda a entender as mudanças nos preços nos diferentes mercados. Os preços atuais em um dado mercado devem ser consistentes com os preços daqui a um ou dois meses, e daqui a um ou dois anos - com o devido ajustes de custos.

A irracionalidade durante a mania algumas vezes pode ser chamada de histeria coletiva, o que gera um desvio do comportamento racional por parte de um conjunto de pessoas.

Os casos irracionais podem envolver as sociedades que dependem de eventos extraordinários que possuem pouca relevância para suas circunstâncias econômicas. Eles também podem envolver também casos em que a sociedade ignora as evidências e prefere não pensar naquilo.

Muitas empresas austríacas investiram com antecedência no aumento da atividade de negócios seguida pela abertura da feira World Exhibition, em Viena, em 1873. A feira tinha como objetivo aumentar as vendas das empresas, o que exigia investimento altos. Os bancos aumentaram seus créditos o máximo possível e, por isso, eles esperavam pela abertura da feira para aumentar os faturamentos dos negócios e recuperar o investimento.

Quando a feira abriu, o aumento nas vendas foi decepcionante, e alguns dias depois o mercado entrou em colapso.

Apesar da suposição da racionalidade, os mercados algumas vezes se comportam como irracionais, mesmo quando seus participantes acreditam no contrário.

Os choques que impactam a economia

Um displacement é um evento externo que muda as expectativas, os comportamentos e as oportunidades de lucro. Um aumento no preço do petróleo pode ser considerado um displacement, por exemplo. O choque deve ser o suficiente para gerar um impacto na economia.

Muitos eventos diários produzem mudanças na economia, mas poucos deles são significantes o suficiente para serem considerados displacements.

Os principais objetos de especulação

Nas últimas décadas do século 20, os investidores especularam principalmente em relação ao mercado imobiliário e de ações. Antes disso os objetos de especulação eram bem mais diversos.

A maioria das grandes crises mundiais envolvia pelo menos dois objetos de especulação e pelo menos dois mercados distintos. E assim como os mercados nacionais estão conectados, as especulações provavelmente também estão conectadas pelas condições de crédito. Ou seja, quando os preços imobiliários aumentam, o negócio de construção provavelmente sofrerá um boom e o valor de mercado das empresas de construção aumentará. A relação é simétrica: quando os preços dos imóveis caem, os preços das ações provavelmente também cairão.

Os efeitos da expansão do crédito

As manias especulativas ganham velocidade através da expansão do crédito e do dinheiro. Mas a maioria das expansões não leva à mania. As expansões acontecem em maior proporção se comparadas à mania, mas as manias são sempre associadas com a expansão do crédito.

Isso ajuda a compreender que a expansão do crédito não acontece por acaso, mas sim por centenas de anos através de um desenvolvimento sistemático. Enquanto isso, os participantes dos mercados financeiros tentam reduzir os custos das transações e de liquidez.

Durante os booms econômicos, a quantidade de dinheiro definida como uma forma de pagamento se expandiu continuamente. Além disso, a oferta de moeda foi utilizada de maneira mais eficiente, para financiar a crescente atividade econômica e as compras de bens imóveis e títulos e commodities na busca por ganhos de capital. Os esforços dos bancos centrais para limitar e controlar o crescimento dessa oferta de moeda foram equilibrados pelo desenvolvimento de substitutos para o dinheiro.

As mudanças nas expectativas dos investidores

Um choque leva a uma expansão econômica, que se transforma em um boom econômico. A partir daí, a euforia se desenvolve e então há uma pausa no aumento dos preços dos ativos. O distress provavelmente vai acontecer, à medida que os preços dos ativos começam a cair. Então é provável que o pânico surja, seguido pelo crash.

A teoria das expectativas racionais assume que as expectativas dos investidores mudam instantaneamente, em resposta a cada choque. Também assume que os investidores enxergam os impactos dos choques nos preços do longo prazo para os imóveis, as ações e as commodities.

A mudança nas mentalidades dos investidores, de um sentimento de confiança para o pessimismo, é a fonte de instabilidade nos mercados de crédito. Isso acontece já que alguns mutuários, sejam pessoas ou negócios, percebem que o débito é muito grande em relação à renda. Esses mutuários começam a ajustar suas novas percepções sobre o futuro econômico, reduzindo seus gastos para que possuam dinheiro para pagar o débito ou para poupar mais.

Algumas empresas podem vender divisões e unidades de operações para receber dinheiro e pagar dívidas. Os credores reconhecem que possuem muitos empréstimos arriscados e por isso procuram o reembolso das dívidas mais arriscadas. Eles também ficam mais relutantes em renovar esses empréstimos com o tempo. Os credores também levantam o padrão de crédito para novos empréstimos. O período de dificuldades financeiras pode durar semanas, meses ou até mesmo anos.

O papel do governo no ciclo das crises

As políticas governamentais apresentam um papel vital na formação das expectativas, então o governo deveria intervir para moderar esse ciclo? O governo pode se desviar de uma crise financeira se diminuir as expectativas que se desenvolvem na fase de euforia? O governo deveria buscar diminuir os impactos do declínio dos preços das ações, dos imóveis e das commodities depois que a bolha implode?

Se o governo tem mais conhecimento que os especuladores, ele poderia tornar esse conhecimento disponível ou publicar suas previsões. Assim, poderia acalmar as preocupações e medos dos investidores, tornando o conhecimento público.

O momento certo para intervir é complexo. Se as autoridades governamentais querem que o alerta seja eficiente, precisam fornecer advertências cedo o suficiente para antecipar os excessos do período de euforia, e tarde o suficiente para que essas advertências tenham credibilidade.

O distress financeiro

O distress é muito utilizado em discussões sobre crises financeiras. O termo é impreciso: pode ser interpretado como um estado de sofrimento ou como uma situação arriscada. O distress comercial reflete a primeira definição, o distress financeiro reflete a segunda.

O distress financeiro para uma empresa significa que sua lucratividade caiu consideravelmente, representando grandes perda. Por isso, há uma alta probabilidade de que essa empresa não seja capaz de pagar os juros das suas dívidas. O distress financeiro para uma economia implica na necessidade por ajustes econômicos. As empresas podem estar próximas da falência e os bancos podem precisar de recapitalização.

O distress não é uma condição facilmente medida. Os investidores podem ficar apreensivos quando os valores de certas variáveis divergem dos valores da média. De fato, algumas dessas variáveis incluem a proporção da reserva de ouro do banco central; a proporção da dívida para o capital de muitas empresas ou pessoas; as perdas dos bancos em relação ao capital; a proporção de pagamento da dívida externa e os rendimentos de exportação de um país; e a proporção de preço-ganhos para as ações e aluguéis de imóveis.

As causas e os sintomas do distress são observadas ao mesmo tempo e incluem crescimento acelerado das taxas de juros nos segmentos do mercado de capital; um aumento nas taxas de juros pagas pelos mutuários subprime; uma grande depreciação da moeda no mercado estrangeiro; um aumento nas falências; e o fim do aumento de preços nas commodities, nos títulos e nos imóveis. Geralmente esses eventos estão interligados e demonstram que os credores estão sobrecarregados, assim como tentando reduzir os riscos.

O distress pode surgir de um aumento no fluxo de fundos de um país. Em um exemplo prático, uma colheita ruim pode exigir um aumento nas importações. Da mesma forma, um aumento nas taxas de juros, em um grande centro financeiro internacional, pode fazer com que os fundos percam o interesse em mercados financeiros domésticos.

A essência do distress financeiro é a perda da confiança, e o que vem a seguir? Uma das consequências uma lenta recuperação da crença no futuro, já que diversos aspectos da economia estão interligados. A outra, pior ainda, seria um colapso nos preços, pânico, falências e uma pressa para se livrar de ativos sem liquidez

O crash ou pânico que segue o distress financeiro pode ser imediato, pode acontecer em algumas semanas ou demorar muitos anos.

O crash e o pânico

Um crash é um colapso dos preços dos ativos, ou talvez o fracasso de uma importante empresa ou banco. Um pânico, ou um medo repentino sem causa, pode ocorrer em mercados de ativos ou envolver os títulos com pouca liquidez, que são muitas vezes substituídos por títulos do governo. Essa esperança no governo existe em torno da crença de que o governo não pode falir, já que pode sempre imprimir dinheiro. Uma crise financeira pode envolver o crash e o pânico, juntos ou não.

Os ciclos de dívida-deflação envolvem uma queda nos preços dos ativos e das commodities, o que leva a uma redução no valor das garantias e induz os bancos a pedir empréstimos. Enquanto isso, a queda nos preços causa a falência de muitas empresas. Além disso, as famílias vendem seus títulos e as empresas adiam empréstimos e investimentos, fazendo com que os preços caiam ainda mais. E as quedas nos valores das garantias de empréstimos levam às liquidações.

A falência das empresas incorre em perdas para os bancos, que também declaram falências. Com a falência dos bancos, os depositantes retiram o dinheiro do banco.

As retiradas dos depósitos exigem mais empréstimos para os bancos e um aumento na venda de títulos. Os comércios, as empresas industriais, os investidores e os bancos precisam de dinheiro – seus títulos arriscados não podem ser vendidos a qualquer preço, e eles são forçados a vender seus melhores títulos, então o preço entra em declínio.

Os bancos podem ajudar as empresas conhecidas por um tempo, na expectativa de que os preços melhorem. Mas quando uma falência ocorre é necessário buscar por uma solução para os empréstimos ruins. No auge do pânico, o dinheiro não está mais disponível.

Euforia e os booms econômicos

A associação entre as bolhas de preços dos ativos e a euforia econômica é muito forte. As mudanças no nível de prosperidade das famílias, associadas com o aumento nos preços dos ativos, afeta diretamente o consumo e os gastos das empresas. Existem duas ligações entre o aumento nos preços de imóveis e de ações e a taxa de crescimento da renda nacional.

  • Uma ligação vem dos aumentos da riqueza das famílias em relação aos aumentos dos gastos das famílias. As famílias possuem poupanças ou objetivos de riquezas e, com o aumento da prosperidade advindo dos preços dos ativos, as famílias poupam menos da renda que ganham. Assim, o consumo aumenta.
  • A segunda ligação vem do aumento nos preços das ações em relação aos gastos em investimento. Quando o preço das ações sobe, as empresas conseguem levantar dinheiro dos investidores a um custo mais baixo, e podem realizar novos projetos menos lucrativos. Então, o custo de capital de uma empresa varia inversamente com o nível do preço das ações: quanto maior o preço das ações relativo aos ganhos dessas empresas, menor o custo de capital. Quanto menor o custo de capital dessas empresas, maior os investimentos em plantas e equipamentos, já que os preços altos das ações ajudam as empresas a lucrar mesmo com uma taxa de retorno menor.

Existe uma simetria entre os aumentos na atividade econômica em resposta aos aumentos nos preços dos ativos; e as quedas na atividade econômica quando os preços dos ativos caem. Durante a fase de expansão, as empresas aumentam os pedidos de empréstimos em resposta ao aumento do patrimônio líquido.

Os bancos aumentam os empréstimos e podem diminuir seus critérios. No momento em que os preços dos ativos explodem, os bancos sofrem grandes perdas e alguns deles podem ser forçados a fechar ou obter capital do estado.

Os mercados imobiliário e de ações

Muitas bolhas no Mercado de ações estão relacionadas às bolhas imobiliárias. Existem três diferentes conexões entre esses dois mercados:

  • A primeira é que, em muitos países, uma grande quantidade do mercado de ações é composta por empresas imobiliárias, de construção, e em outras indústrias associadas a imóveis – incluindo bancos.
  • A segunda conexão é que as pessoas que aumentaram suas riquezas, como resultado do aumento dos valores dos imóveis, querem continuar diversificando a riqueza e por isso compram ações. E não existem muitas maneiras fáceis de diversificar a riqueza.
  • A terceira conexão tem relação com a segunda. Os investidores que lucraram com o aumento das valuations do mercado de ações compram casas mais caras e maiores.

A euforia que se espalha de um Mercado para outro é facilmente entendida. Os ganhos de capital podem ser adquiridos sem nenhuma habilidade especial. Quando os preços dos ativos sofrem um colapso, os acionistas sabem que enfrentarão problemas e que precisam reduzir suas dívidas. Os investidores com alavancagem alta reconhecem que a riqueza está diminuindo e, por isso, vendem as ações.

As preocupações dos bancos centrais durante uma bolha

A maioria dos bancos centrais escolhe a estabilidade do preço como um alvo para as políticas monetárias. Recentemente, a "meta" inflacionária tem sido utilizada como um mantra político – os bancos centrais buscam alcançar uma taxa de inflação abaixo de determinado valor.

No entanto, se a implosão de uma bolha, nas ações ou no mercado imobiliário, levar a um declínio na solvência bancária, o banco central deveria se preocupar com os preços dos ativos?

Por um lado, o preço dos ativos deveria ser incorporado no nível de preços geral. Em um mundo de mercados eficientes, eles representam uma previsão dos preços futuros e do consumo. Mas essa visão assume que os preços dos ativos são determinados pelos fundamentos econômicos, e que não são afetados pelos comportamentos que leva a uma bolha.

Os bancos centrais normalmente não se mostram relutantes em aumentar as taxas de juros para evitar um aumento na taxa de inflação. Mas eles se mostram relutantes em tentar lidar com as bolhas dos preços dos ativos, ou até mesmo em reconhecer que as bolhas existem – embora reconheçam depois do acontecimento.

As crises financeiras afetam diversos países

Alguns países podem não ser afetados por crises internacionais que impactam seus vizinhos por razões óbvias. Ainda assim, as crises financeiras são normalmente internacionais e podem afetar diversos países ao mesmo tempo.

Uma das ligações entre esses países é a arbitragem que conecta os mercados nacionais. A implicação da lei de um preço é que a diferença nos preços dos bens idênticos em diversos países não pode exceder os custos de transporte ou as barreiras de comércio.

De maneira semelhante, os mercados de títulos de diversos países também estão conectados, já que os preços dos títulos negociados internacionalmente, em diferentes mercados nacionais, devem ser idênticos depois de uma conversão de moedas. Os preços dos títulos negociados internacionalmente, que são listados nos mercados de ações de diferentes países, aumentam e diminuem juntos.

Quando mudanças nos preços das ações são pequenas, as correlações entre o movimento dos preços em diferentes mercados nacionais são baixas. Com o aumento das mudanças, as correlações aumentam também.

Os booms e pânicos são transmitidos de um país para outro de diferentes maneiras, incluindo a arbitragem em commodities ou títulos; e movimentos financeiros de diversas formas – espécie, depósitos bancários, e moedas de troca. Os títulos e os mercados de ativos em diversos países estão ligados pelos movimentos financeiros.

Movimentos de capital podem responder a causas reais, incluindo:

  • Guerras e revoluções;
  • Inovações técnicas;
  • Abertura de novos mercados e novas fontes de matérias primas;
  • Mudanças no relacionamento entre as taxas de crescimento em diferentes países;
  • Ee as mudanças nas políticas monetárias e fiscais.

A privatização de empresas governamentais em diferentes países pode induzir influxos de compradores estrangeiros. Considere as conexões entre a apreciação de uma moeda e a deflação no mercado de bens desse país – ou as conexões entre a depreciação da moeda e a inflação no mercado de bens; o aumento do valor da moeda nacional leva a quedas nos preços dos bens comercializados internacionalmente, e a falências das empresas financeiras.

Os booms e as falências estão conectados de muitas maneiras. Um boom econômico em um país, quase sempre atrai dinheiro de fora. De maneira parecida, um boom em um país pode reduzir o fluxo de dinheiro para outros países.

A ligação entre as bolhas e as fraudes

A implosão de uma bolha no preço de ativos sempre leva à descoberta de fraudes. Na falta de crédito, as fraudes aumentam e se espalham de maneira significante.

Esse comportamento fraudulento é em sua maioria ilegal, mas algumas questões podem ser nebulosas e se encontram em uma linha tênue entre o que é permitido e o que não é. Os prêmios de opções para os diretores e funcionários deveria ser considerado um custo como os salários? Ou deveriam ser enterrados em uma nota de rodapé para que os custos e os lucros não sejam afetados? A resposta pode determinar a velocidade de crescimento dos lucros, e a velocidade de crescimento dos preços das ações.

As fraudes nos mercados financeiros podem envolver declarações sobre o crescimento dos lucros ou sobre os preços das ações “assegurados” pelas empresas. Uma declaração típica é de que "o preço da ação da Amazon" vai crescer para $400 por ação até 4 de julho; ou poderia ser "nosso preço alvo é de $400 por ação". Outra declaração poderia ser "os lucros da corporação vão aumentar a uma taxa de 15% por ano pelos próximos cinco anos".

Algumas fraudes no mercado financeiro podem envolver otimismo excessivo sobre os ganhos das empresas ou sobre os preços futuros das ações, quando as pessoas que emitiram as declarações sabem que isso simplesmente não pode ser verdade.

O aumento no preço das ações é duas vezes mais comum do que a queda no preço, então mesmo sem nenhuma habilidade especial, as chances garantem que os estrategistas do mercado estão certos com maior frequência. Os estrategistas de mercado são normalmente relutantes em indicar que os preços das ações irão cair, e muito raramente sugerem que o preço da ação de uma empresa cai – os executivos dessa empresa ficariam furiosos com isso.

A corrupção não pode ser medida a menos que uma economia ou uma sociedade possua leis, normas ou regras que diferenciem o comportamento permitido e o comportamento ilegal ou imoral.

Qualquer coisa pode ser permissível ou aceitável em uma sociedade sem regras ou normas mas, na teoria todas as sociedades as possuem. As leis podem ser diferentes entre os países, o que é legal em alguns países pode ser ilegal em outros. Além disso, dentro de um mesmo país, as leis e normas podem mudar com o tempo.

O comportamento fraudulento aumenta nos booms econômicos. Fortunas surgem em booms, os indivíduos se tornam gananciosos e as fraudes ajudam a alimentar essa ganância. A ganância também faz com que alguns amadores cometam fraudes, desvios e outros abusos de autoridade.

Não existem dados bancários que permitam comparações de comportamentos fraudulentos em diferentes países, mas o avanço do jornalismo contribuiu para a exposição das atividades ilícitas das empresas. A exposição é o grande risco corrido por quem comete as fraudes, mas a recompensa em riqueza pode ser muito maior que o risco.

A revelação das fraudes e desvios, bem como as prisões e punições para aqueles que violaram a leis, são sinais importantes de que a euforia econômica foi excessiva e de que existem consequências sociais graves.

O papel do credor doméstico de último recurso

O credor doméstico de último recurso está pronto para emprestar dinheiro e ajudar quando necessário, mas quanto dinheiro? Para quem? Sob quais circunstâncias? Quando?

Essas perguntas são enfrentadas por esses credores, que também enfrentam outro dilema: se os investidores acreditam que esses credores estão apoiando os bancos ou outras instituições em momentos de distress, agirão com menos cautela durante o próximo boom. O bem público do credor de último recurso enfraquece a responsabilidade dos credores privados de garantir que estão realizando empréstimos criteriosos.

No entanto, em uma situação de pânico, a pressa para converter os títulos e as commodities em dinheiro não pode ser ignorada. As vendas desses ativos pelos investidores, em uma tentativa de minimizar as perdas, leva ao declínio nos preços dos ativos, fazendo com que um grande número de empresas – que antes eram saudáveis – declarem falência.

O credor internacional de último recurso

O principal argumento para a criação de um credor internacional como último recurso é o registro histórico da transmissão da pressão deflacionária de um país para outro. Essa transmissão foi associada a mudanças nas taxas de câmbio, com desvalorizações quando as moedas estão atreladas e com depreciação quando as moedas não estão atreladas.

Um credor internacional de último recurso enfrenta um problema diferente dos credores domésticos. Desde que existam moedas nacionais separadas e um banco central nacional, as mudanças nas taxas de câmbio são inevitáveis. Algumas dessas mudanças serão necessárias, especialmente quando um país não é tão bem-sucedido quanto seus parceiros de troca em alcançar baixas taxas de inflação; uma redução no valor de câmbio da moeda de um país pode ser uma maneira mais barata de buscar o equilíbrio – se comparada com o desemprego associado com uma moeda supervalorizada.

A principal responsabilidade de um credor doméstico de último recurso é reduzir a probabilidade de uma falta de liquidez doméstica, que pode gerar um problema de solvência e causar falências.

O credor doméstico de último recurso precisa trabalhar em uma linha tênue: de um lado evitar salvar instituições financeiras que já estão falidas por causa dos investimentos arriscados; e do outro lado salvar os competidores saudáveis da insolvência que poderia ocorrer como um resultado do declínio nos preços e do surgimento da deflação.

Diferentemente, a principal responsabilidade de um credor internacional de último recurso. é fornecer liquidez para melhorar o alcance das mudanças necessárias nas taxas de câmbio. Assim, ele age a evitar as mudanças que não são exigidas pelos fundamentos econômicos.

Os créditos internacionais foram estendidos por pelo menos quatro séculos, quando os governos emprestaram para outros países. Ao mesmo tempo, foi quando os bancos privados de um país confiaram em bancos de outros países para assistência no caso de uma retirada repentina de fundos.

Os regimes funcionam bem em momentos tranquilos mas, durante uma crise, uma liderança mais decisiva é importante. E a probabilidade de escapar de futuras crises financeiras e econômicas parece pequena.

O Fundo Monetário Internacional foi criado em 1940 para agir como um último recurso de ajuda internacional. O motivo para sua criação foi a instabilidade financeira na década de 20 e de 30, que poderia ter sido evitada ou mitigada. Os funcionários do fundo visitam cada um dos países membros duas vezes por ano, para discutir as políticas econômicas do país.

Notas Finais

A história monetária dos últimos quatrocentos anos está repleta de crises financeiras. O padrão foi que o otimismo do investidor aumentou com a expansão das economias, a taxa de crescimento do crédito aumento e o crescimento econômico acelerou. O aumento na oferta de crédito e as perspectivas econômicas mais favoráveis levaram a booms econômicos.

Depois disso, porém, o crescimento foi interrompido e as crises surgiram. Algumas dessas crises envolveram o fracasso de um grande número de bancos, algumas envolveram a falta de confiança na habilidade de um país em manter o equilíbrio da moeda e algumas poucas envolveram a implosão de uma bolha nos mercados de ações e imobiliário.

O fracasso dos bancos aconteceu graças às grandes depreciações das moedas nacionais ou graças às quedas nos valores imobiliários e das ações durante a fase de crash do ciclo financeiro.

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Quem escreveu o livro?

Charles P. Kindleberger foi um historiador econômico americano e autor de muitos livros. O seu livro de 1978, Manias, Panics, and Crashes, sobre bolhas especulativas em mercados de ações, foi republicado em 2000 após a bolha da internet. Ficou famoso com a Teoria da estabilidade hegemônica. Ficou também... (Leia mais)

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